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13 de agosto de 2010

Sexta-feira 13... =(

Hoje o dia foi de bruxa mesmo, de chuva, e de... uuuffa!
Sabe o que é passar o dia todo a base dos jingles de campanha politica?!
Gente, é muuuito chato... Fala sério.
Toda sexta feira treze me lembra uma eterna melhor amiga, a Keysa, que é meio bruxa... Aliás, meio não, ela se diz bruxa mesmo. Bom, eu não acredito piamente nessas coisas, mas há quem diga que ela é mesmo, herança de familia e tudo mais. Faz muito tempo que não nos falamos, assim, pessoalmente, ela foi embora com a família, morar em São Paulo.
Nos conhecemos na escola, quando cursávamos a oitava serie. Ela era meio metida a roqueira, e eu também. E tudo começou quando fomos escaladas pra fazer um trabalho juntas. Eu lembro que era um trabalho de português, sobre as tribos urbanas. Cada equipe era responsável por uma tribo, tinha a dos happers, das patricinhas, hippes, e um monte de tribo jovem. Nós ficamos com a tribo dos roqueiros. Bom, nessas reuniões de equipe passamos a nos conhecer, e construímos uma amizade implacável. Éramos as roqueiras da sala, mas nem por isso tínhamos um rendimento ruim. Nesse trabalho por exemplo, o nosso grupo foi o melhor.
Bom, isso até a metade do ano...
Depois conhecemos uma dessas tribos fora da escola. E passamos a matar aula todos os dias. Era muito rock'n roll, mas nada de sexo, nem drogas, tá gente?!
Depois de um tempo, a coisa foi ficando mais sinistra, e a gente passou a cultuar umas coisas estranhas. Ela, na realidade, já era meio bruxa, e eu fui entrando no clima também. Passamos a fazer visitas ao cemitério nos finais de semana, criamos uma coleção de santinhos, e isso virou rotina. Até que um dia, quando saiamos de lá, encontramos um desses "amigos" da tribo, que não era muuito conhecido nosso, mas já tínhamos visto em algum lugar, e já era consideravelmente confiável. Daí, ele convidou pra uma reuniãozinha na casa de um deles, disse que era ensaio de uma banda de rock, e a gente retrucou no inicio, mas logo aceitamos o convite. Não lembro o horário exatamente, mas nunca chegávamos depois dass 19h, pois Keysa tinha que ir para Igreja com a família. A principio senti um pouco de medo, bateu uma angústia repentina, sabe?!
Mas a gente foi, mesmo assim. Eu lembro bem, era uma casa na esquina, de dois andares, só se ouvia o som da bateria, e parecia mais um show de rock pela quantidade de gente estranha na porta. Embora a maioria das pessoas soubessem de nós, não existe roqueiro simpático, e mesmo que soltássemos o mais agradável dos sorrisos, talvez fosse até motivo de chacota. Então ficamos ali, no ponto neutro da situação, aguardando orientação, ou atenção de algum cara esquisito. Ficamos sozinhas na maior parte do tempo. Até aparecer um tal de... Acho melhor não citar nomes!! Enfim, apareceu o cara mais simpático, o único simpático naquele lugar cheio de gente fechada. E diferente dos roqueiros - tradicionais roqueiros - ele não usava preto, nem calça rasgada, e também não era tão novo quanto a maioria, mas ele se dava bem com todo mundo, e tirava sorrisos das pessoas, era divertido, fumava um cigarro, e tomava uma coisa forte ao mesmo tempo. Foi o único a falar com a gente, e nos deu orientação (a gente precisava disso).
Bom, pra falar a verdade era como se eu estivesse vivendo um daqueles documentários sobre a vida de um drogado. O prédio era horrível, a escada era suja, fedia a mijo, a tudo que é porcaria, aquilo tudo fedia a irresponsabilidade. Por um momento eu pude entender que ficava sério a cada degrau que eu subia. Ele sempre atencioso com as pessoas, olhava pra gente, conversava, e eu de alguma maneira me sentia segura com aquele homem, protegida. E pelos cantos da escada... Nossa, aquilo sim, era sujo. Casais esquisitos se beijavam como se não fossem vistos, mulheres sem pudor, que nos olhavam dos pés a cabeça, como se aquilo fosse ameaçador pra elas. Nós, aquele homem, subindo aquelas escadas. Aquilo era de fato ameaçador.
Acreditem, foi só o primeiro de muitos outros ensaios. E não vou negar que foi divertido, foi diferente, e nos dava uma sensação estranha de liberdade, e medo. Era bom, ao mesmo tempo angustiante. Bom, a gente entendeu que não sabia bulhufas do que era rock'n roll, que aquilo ali era de verdade. Por todos os cantos, sentados por todos os lados, pessoas de todos os jeitos. Gente quieta, sozinha, de olho fechado, introspectiva, gente eufórica, mulher com cigarro entre os dedos, os músicos concentrados, como se aquilo fosse de verdade. Tá... Aquilo era de verdade!
Éramos as excluídas, as estranhas diante de tanta gente estranha. Éramos talvez as únicas a recusar bebida, e dizer; -Não, obrigada, eu não bebo! As únicas a "se fazer" do que não era, no lugar onde todos eram, e estávamos prestes a ser.
Chegamos em casa no horário, Keysa chegou a tempo de ir para igreja com a família, alegando que havia passado a tarde com a galera da escola, e eu pude dar outra desculpa esfarrapada pra minha mãe. E no começo foi sim, mas depois passamos a perder os horários, Keysa faltava a igreja, e tudo se complicou. Há muito tempo a gente não aparecia na escola, já tínhamos vários amigos na tribo, e conseguimos o respeito da maioria dele. Fizemos dos ensaios nossa rotina nos finais de semana . As pessoas que antes eram estranhas, já sorriam pra nós, e nos aceitavam, aquilo ficava divertido a cada dia, mesmo que sem bebida, cigarro, beijo ousado nas escadas. Fazíamos parte da parte divertida, e estávamos repleta de um sentimento estranho, que era bom, e ao mesmo tempo sem definição. Bom, não ia demorar muito pra acontecer. Um dia ofereceram bebida, e a gente aceitou. Bebemos um pouco, mas eu ainda detestava bebida. Não entendia como aquelas pessoas tomavam aquilo o tempo todo, era ruim, amargo, ardia a garganta; Como alguém pode se auto flagelar desse jeito??!! Isso é horrivel! E sem falar no mal cheiro, que é insuportável. Mas também não demorou muito para que eu me acostumasse. O tempo "curou" isso também. Nunca gostei de qualquer tipo de bebida alcoólica, mas sempre segurava um copo pra não ficar totalmente por fora, dava umas bicadas de vez em quando, e enrolava até a hora de ir embora. Bom, até o dia em que Keysa resolveu provar o amargo na garganta de verdade. Segurou dezenas de copos durante o tempo em que ficamos lá, perdeu o controle, e eu de mãos atadas sem saber o que fazer, quando percebi já era tarde demais. Eu não ficava mais o tempo todo com ela, a gente já tinha liberdade pra sair e conversar com quem quisesse. Deu 19h, e ela já não se importava com a igreja, com a familia, e com o nosso contrato de "responsabilidade". A única coisa que ainda fazia algum sentido, era aquela conversa que só ela falava, e as pessoas riam. Perdeu a noção de tudo, e não parou mais de amargar a garganta, até que... Seu primeiro porre, da pior maneira possível, cheia de preocupação, e arrependimento. O homem simpático levou Keysa pra casa dele, chamou a mãe, e pediu ajuda. A mãe dele, indignada, porém gentil, e atenciosa. Abriu sua casa às tantas da madrugada, e nos acolheu, sem se importar com nossa procedência, sem se importar com nada. Agarrou Keysa pelos braços, arrumou uma cama, e cuidou dela, deu banho, e esperou ela melhorar. E aquilo tudo estava ali, diante da minha realidade. Aquela mulher, que era um anjo, aquele homem, que era estranho.
É... Antes eu tivesse tomado todas também, não teria tanta responsabilidade agora. Mas eu era a porta voz daquilo tudo. Como eu ia chegar em casa, e contar tudo pra mãe de Keysa?!
Eu não sabia. Muito menos o que dizer para os meus pais, que a essa altura do campeonato já tinham chamado a policia. E, não era pra menos... Aquele episódio foi o fim!
Keysa foi obrigada a trocar de escola, depois de um acordo entre nossos pais. E eu agora, era vigiada 24 horas por dia, sem direito a descanso. Mesmo assim não acompanhava mais os assuntos na sala de aula, não conseguia fazer amizade com ninguém, nem meus antigos colegas, que eram do mesmo grupo, e que só tirávamos notas boas... Nem esses, ninguém mais me queria por perto. E meu rendimento continuava péssimo. O tempo foi passando, e eu conheci outra menina na sala, que também era assim, feito eu, excluída. Então fizemos amizade, e passei a recuperar as notas. Voltei as boas com a sala inteira.
Um dia, quando eu estava indo pra casa, cruzei o caminho de Keysa, e a mãe. Eu notei que ela fez um sinal com os olhos, mas não deu pra entender. Depois vi um papel cair no chão, ela olhou pra trás, e depois pro papel, e fez sinal que era pra mim. Era tudo que eu não queria. Até pensei de não voltar pra buscar, pensei em deixar lá, e nunca saber o que tinha escrito. Mas eu fui, li, e era um plano para que pudéssemos conversar. Até que deu certo!
Passamos a nos falar depois da aula. E não demorou para que voltássemos a sair. Dessa vez, além de nós, a menina da minha sala, Ana Paula. A caminho de uma dessas saidas, encontrei um amigo de meia infância, que há muito tempo não o via, e Keysa nem o conhecia ainda. Notei que ele estava nessa de curtir um rock também. Camisa preta, não tirava o cigarro da boca enquanto conversávamos, trocamos algumas palavras, e ele saiu. O nome dele... George, tinha 18 anos, e um belo par de olhos verdes. E ele quem será o grande amor da vida de Keysa daqui pra frente. Adivinha só quem planejava as saidas as escondidas? Dou um doce pra quem acertar! Se já não bastava estarmos proibida de falar, Keysa estava proibida de namorar George também. Bom, assim como as coisas não demoram para acontecer aqui... A mãe de Keysa chegou ao ponto de aceitar o namoro deles, e até nossa amizade. Mas com uma condição; George freqüentaria a igreja, e a gente só se encontrava na minha casa, ou na casa dela. Foi o que fizemos, e George aceitou a condição de ir a igreja. Parou de usar camisa preta, arrumou um emprego com o tio, e eu me recuperava na escola. Isso porque eu já estava namorando, perdidamente apaixonada, e ele foi pedir ao meu pai para namorar comigo. Lembra do homem simpático, do prédio? Então, era ele! Meu pai, evidentemente não deixou, mas prometeu que eu poderia namorar se passasse de ano. O meu pai sugeriu isso, mas acreditava que seria impossível eu passar de ano, pois detestou a ideia de ter a filha namorando um roqueiro, ainda por cima bem mais velho. Mesmo assim ainda ficávamos as escondidas, ele detestava, mas se arriscava por mim. Era tão inteligente, compreensivo, eu o adorava, mas antes de terminar o ano, eu não quis mais, e terminei. Vai entender... Meninas de 16 anos tem o poder de deixar os homens apaixonados! Bom enquanto isso, Keysa se dava super bem com George, e dos dois nasceu um tipo de amor que nunca vi antes. Um amor diferente de todos que já vi, uma coisa que ninguém soube explicar até hoje. Era singelo, doce, era meigo, e ao mesmo tempo malicioso. Eu não sei o que era. Parecia mágico. Tem uma cena que nunca vou esquecer, no aniversário de George - eles ainda estavam namorando as escondidas - a gente dividia um guarda chuva pequeno, quase sem espaço, a chuva só aumentava, e o espaço ficava cada vez menor. Eu corri pra me proteger da chuva, mas eles soltaram o guarda chuva, se abraçaram, e ficaram ali. Aquela imagem congelou. Era como se tivesse uma luz entre eles, era coisa de DEUS. É inexplicável. Parece uma coisa idiota, os dois abraçados na chuva... O que tem de mais nisso né?! Mas havia alguma coisa que fugia desse mundo. Não parecia de verdade! Até a mãe dela, se surgisse naquele momento, furiosa, era capaz de amolecer o coração, e ficar ali assistindo, estática!
Bom, o texto ta ficando enorme. Deixa eu terminar logo...
Eu odeio lembrar esse fim. Mas já que comecei... Bom, Keysa brigou com George, por algum motivo que eu não lembro. E ele, por algum outro motivo, se sentiu na obrigação de ir a uma festa de rock com os amigos, talvez descarregar toda a sua raiva, e amargura. Arrumou uma briga lá, e foi preso. Até hoje ninguém entende como a mãe de Keysa soube disso, mas tomou uma decisão. Decidiu que ia embora com a familia, pra São Paulo. Decidiu se ver livre de tanta preocupação. Então, Keysa procurou George, e terminou tudo com ele. Ele me procurou antes do natal, e disse que não sabia o que fazer, já que não tinha mais nada na vida, havia perdido tudo, inclusive Keysa, que era a unica coisa que ainda fazia algum sentido. Madrugada do dia 24 de dezembro, natal, eu procurei George por todas as pracinhas, por todas as casas de amigos, por todos os cantos, e nada. Talvez estivesse em casa, com a familia. Mas um dos amigos disse que havia encontrado o pai dele bebado, num boteco. Ele não era a pessoa mais comunicativa, mas gostava de brincar, e ficar perto dos amigos, gostava de conversar, contas bobagens, falar de Keysa. Gostava de viver! Bom passou-se o natal, George não apareceu em nenhuma pracinha, não apareceu aqui em casa, não apareceu na casa de Keysa, e não apareceu na casa de ninguém.
Mais ou menos 09:00h da manhã do dia 25 de dezembro, não sei bem como descrever o que isso significou pra mim. Não sei como contar o pior dia da minha vida. Não sei de que jeito dizer que o grito de Keysa, ajoelhada na minha porta, foi a pior coisa que já escutei na minha vida inteira. Ela chorava igual criança, gritava feito uma mãe desesperada quando perde um filho, ela sentia a dor de quem perdeu o amor da pior maneira possível. Ela não precisou me contar nada, assim que olhou pra mim, em prantos, eu pude sentir. George se matou!
Meu post termina aqui, meu rosto está molhado agora, e eu odeio lembrar disso. Odeio! Talvez esse post esteja agora entre as centenas de rascunhos...
George foi uma peça importante em minha vida. Não gosto de lembrar dele, e assimilar ao papel de um adolescente desorientado e deprimido. Eu costumo lembrar do menino tímido, que gostava de bater um papo inteligente, que colecionava cd's, e ouvia as pessoas. O menino de 19 anos que amou, e esqueceu de viver. Aquele que cantava desafinado as musicas preferidas de Raul Seixas, que ainda escrevia cartas. O meu melhor amigo, que levou com ele boa parte dos meus segredos.
Não, meu post não termina aqui. George não sabe, nem nunca vai saber. Mas pra uma menina de 16 anos, isso não foi nada fácil. E eu passei muito tempo até me recuperar, busquei tirar o amargo que havia deixado em minha vida, esquecer de todas as angustias, de todo o mal que isso me fez. E consegui!
Dois dias depois, Keysa viajou, e eu fiquei aqui, sem chão. Não por muito tempo! Peguei uma mochila, arrumei umas coisas dentro, e não sei com que intenção, mas fugi de casa, e corri todos os perigos que uma menina de 16 anos pode correr. Foram os mais estranhos sete dias da minha vida. Caminhei pela praia durante dias, dias e noites, até cansar... Peguei carona com gente esquisita, senti fome, frio, e todas as sensações que alguém pode ter se estiver vivo. Bom, também não demorei mais que sete dias. Meus pais já tinham acionado a policia do meu desaparecimento. Eles trataram de me encontrar, e me levaram de volta pra casa...
Até hoje eu me pergunto; Por que DEUS sabe ser tão generoso comigo?! Não me tirou de vista um minuto, o tempo todo comigo. Atendeu minha vontade, de desaparecer, mesmo eu estando absurdamente errada. Me protegeu, e não deixou que nada de mal me acontecesse!!


Fim!

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